Reflexão: O culto à forma: saúde, vaidade ou escravidão?

Ao longo dos séculos a estética, em especial a feminina, assumiu padrões, hoje divergentes, para ser considerada digna de cobiça e exaltação. Uma problemática marcante da sociedade hodierna é a acentuada influência da mídia na formação ideológica das pessoas, inclusive quanto à promoção do culto à beleza do corpo. No entanto, em meio a essa corrida rumo a um padrão de beleza, surge a dicotomia entre a preocupação com a boa forma e a saúde, sendo que muitas vezes se põe em risco a saúde à custa da boa forma.

Com o rápido avanço da tecnologia e ciência, novos cosméticos, técnicas cirúrgicas e hábitos dietéticos vão se tornando cada vez mais acessíveis, tanto que o Brasil apesar de ser o terceiro pior do mundo em desigualdade social e pobreza, atualmente é o terceiro maior mercado consumidor de cosméticos e ocupa segunda posição no ranking mundial de cirurgias plásticas, onde cerca de 70% das intervenções são de caráter estético e 30% reparatório. As mulheres também estão no topo da lista, assim como as cirurgias mamarias de cunho estético seguida da famosa lipoaspiração, tendência que pode atenuar a fama das brasileiras mundo a fora no tocante a singularidade de suas curvas e formas.

Tendo em vista tais fatos, se para certas mulheres, que fizeram da sua imagem instrumento de trabalho, beleza não tem preço, para as menos favorecidas visual e economicamente, preço ainda é essencial, mas pela realização do sonho de consumo estético o barato pode sair caro. Para se enquadrar nos parâmetros de beleza vigentes, ou seja, cintura finíssima, quadris grandes e seios fartos, lábios carnudos, etc., para muitas a integridade do corpo fica em segundo plano: cirurgias de retirada das últimas costelas, redução de estomago, aplicação de Botox para paralisar os músculos da face, comprovam que a vaidade feminina não tem limites.

Recentemente, órgãos de vigilância sanitária do mundo inteiro tiveram de tirar do mercado de cirurgia plástica, definição pertinente à vulgarização da prática cirúrgica, a marca de prótese de silicone francesa PIP devido a estudos que comprovam os riscos de rompimento e câncer de mama. Tal produto vinha sendo bastante requisitado em clinicas do mundo inteiro justamente pelo baixo custo em relação às demais marcas. Outra tendência preocupante são os casos em que os médicos responsáveis pela cirurgia não possuem diploma reconhecido no Brasil, assim como registro no Conselho Regional de Medicina (CRM), conferindo o exercício ilegal de Medicina no país. Em outras palavras, qualquer complicação que possa surgir durante o pós-operatório não poderá ser recorrida judicialmente.

E não podemos deixar de falar dos artifícios de emagrecimento mais tradicionais: as dietas passadas de geração a geração e a prática da atividade física em academias. Quanto às dietas, elas estão se tornando cada vez mais bizarras, pondo à prova os limites do organismo em habituar-se à mudança imediata e drástica na rotina alimentar. Popularizadas pelas celebridades e adotas principalmente por jovens, uma vez que facilmente influenciáveis, são várias as receitas infalíveis e milagrosas que prometem dar fim às medidas indesejadas, muitas vezes associadas à prática da bulimia, algo que nos faz refletir sobre o compromisso que estas formadoras de opinião têm com seus fãs.

Já nas academias constatamos uma demanda cada vez mais acentuada de pessoas independente da faixa etária e sexo, em busca do aspecto corporal difundido por modelos, atletas e atrizes, sem que se tome consciência de acidentes vasculares e musculares decorrente de esforço repetitivo em excesso. Há ainda, os que insatisfeitos com o aspecto natural do corpo ou porque querem ganhar massa muscular, força física e resistência de forma expressivamente rápida, apelam para o uso de esteroides anabolizantes. Entretanto, é sabido que o uso indiscriminado desses hormônios sintéticos podem gerar efeitos colaterais irreversíveis, além de causar dependência como qualquer droga.

A busca pela beleza é natural do ser humano, no entanto é preciso estar alerta aos riscos recorrentes da busca desenfreada por um padrão de beleza utópico. Tem-se que questionar os padrões e encontrar a própria beleza, uma vez que os homens podem até ter inventado uma substância capaz de paralisar os músculos da face, porém ainda não há como paralisar o tempo, e os efeitos dele num corpo marcado por drásticas modificações químico-cirúrgicas pode ser frustrante numa certa idade. Assim fica o questionamento, o que será que vale a pena: preservar a autenticidade do corpo e garantir um envelhecimento saudável ou usufruir ao máximo da juventude e arriscar a própria vida para expor uma falsa imagem?

Por: Jadson Luan
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