Chico Buarque PARATODAS!

Nelson Rodrigues já disse que todo homem perto de Chico Buarque é um corno em potencial. Mas cá entre nós, qual dentre as mulheres que conhecem e reconhecem o seu vasto acervo fonográfico, que ouvindo Tatuagem, Futuros amantes, Eu te amo, Todo o sentimento e tantas outras não chega ao delírio?! Chico desde a década de 60 no cenário musical brasileiro “viola nossos ouvidos com tantos segredos lindos indecentes”.

Quando indagado donde vem esta sua notável percepção da essência feminina Chico afirma: “Convivi muito mais com elas do que com homens. Com minhas irmãs muito mais do que com meus irmãos, além de ser pai de três filhas”. Este par de olhos verdes. Ou azuis? Bem, não se sabe ao certo, mas o que não temos dúvidas que ainda persiste no sonho feminino, seja lá pelo charme, pelas canções ou pela poesia. Não somente fala para as mulheres, mas também fala pelas mulheres. Traduz as Angélicas, as Lígias, as Joanas, as Anas, as Cecilias , as Genis sem que estas jamais precisassem se explicar, falando com tamanha propriedade da dor dessa “gente que não sai no jornal”.

Foi com Com açúcar, com afeto que iniciou-se o ciclo de canções femininas de Chico. Ocorre que esta canção é o primeiro Eu-lírico feminino de Chico Buarque, atendendo ao pedido de Nara Leão ele a compôs. Temos nesta música exaltação as qualidades domésticas das mulheres, cuidadosas, submissas, que fazem tudo para agradar e servir ao marido e no final das contas só requer um pouco de atenção.


Contrapondo a mulher de “Com açúcar, com afeto” aparece a mulher de “Olhos nos Olhos”, a mulher do final da década de 60, reformulada pela Revolução Feminina, mais livre, independente, longe de ser reprimida pelo marido, disposta a surpreender a sociedade com seu novo posicionamento. A canção Olhos nos Olhos foi composta para ser gravada por Maria Bethânia.


Folhetim composição feita para a peça musical “Ópera do Malandro” do próprio Chico. Na letra a mulher transporta uma personagem antes só encontrada em figuras predominante masculinas, visto que ela conta mentiras, sonhos e ilusões para o homem que depois por ela será esquecido como uma “página virada descartada do seu folhetim”. Música gravada por Gal Costa no LP Água Vivade 1978.


Atrás da Porta, interpretada por Elis Regina. Esta música tem uma história curiosa. Ocorre que nas férias, Francis Hime veio ao Brasil e encontrou Chico Buarque. Neste encontro Francis começa a tocar a melodia da música, Chico gosta e começa a compor parte da letra, sem a concluir no momento segundo ele por falta ou excesso de bebida. A obra inacabada foi esquecida por um tempo até que Elis ouvindo-a ficou maravilhada e a gravou deixando a parte que faltava apenas orquestrada. Chico ao ouvir a fita gravada por Elis Regina terminou a canção com os versos:

Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua

O interessante que Elis no momento da gravação de Atrás da Porta havia se separado de Ronaldo Bôscoli e engatava um novo romance com o Cesar Camargo Mariano. Muitos atribuem ao momento afetivo que Elis vivia a forma de como ela interpreta e tanto se interessou por esta canção de Chico
Buarque.


As personagens parecem que não têm fim, fala ainda das homossexuais Bárbara e Ana de Amsterdam até das mitológicas Mulheres de Atenas. Na obra de Chico ele não hesita em dar cor e relevo as mulheres que somos ou que podíamos ser. O que mostra que este cantor-compositor-escritor-diretor de 66 anos símbolo sexy e intelectual é sim PARATODAS!


Para quem quer apreciar uma das mil facetas de Chico, é bom conhecer a série: Chico 50 anos, lançada em 1994. Disponibilizamos download do Cd: Chico Buarque - O Amante. Com boa parte das músicas aqui mencionadas.

Texto por: Rafaela Barreto
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