O Choro e seus Chorões

Chorinho de Cândido Portinari
Lima Barreto já dizia que “O subúrbio é o refúgio dos infelizes”. Por conta disso não foi por acaso por volta de 1880 encontramos nos subúrbios cariocas os primeiros chorões. Lá estavam eles, em rodinhas formadas por músicos, muitos deles funcionários públicos. Os quais de uma maneira mais emotiva e chorosa interpretavam suas melodias.

Embora tenha sido os moradores dos subúrbios o segmento de público que mais se interessou pelo Choro, sabe-se que ele é um gênero criado pela mistura de elementos das danças de salão européias (valsa, minueto e polca), além da influência da música africada (lundo).
Várias são as especulações a respeito do surgimento do nome Choro. Uma delas nos diz que se é devido a sensação de melancolia transmitida pela sonoridade da música. Outra diz que vem do nome xolo, que era um tipo de baile no qual os escravos das fazendas se reuniam, o termo foi se desdobrando até que finalmente chegou ao Choro.

É sabido que muitos os apreciadores do Choro não gostam de se referir ao Gênero Musical como Chorinho, diga-se de passagem que eu sou uma dessas...Isso me faz lembra Ary Barrozo e sua famosa bronca numa caloura que disse que iria cantar um sambinha .Ary disparou: “Minha filha, você canta um jazzinho? Ou um fox-trotzinho? Ou um tanguinho? Então por que há de cantar um sambinha? Use o nome correto: samba!”. Concordo plenamente com ele estendo a mesma idéia pro Choro!

Muitos são os compositores que deram cor e relevo e manteve o Choro ao longo do tempo.
Chiquinha Gonzaga

A primeira que ouso a falar é de Chiquinha Gonzaga, só a sua grande contribuição por ser a primeira pianista de Choro, e introduzir a música nos salões elegantes, já seria o suficiente para que eu a estimasse, porém ela não se conteve além de compositora, instrumentista e regente, foi promotora da nacionalização musical, primeira maestrina, autora da primeira canção de carnaval, fundadora da primeira sociedade protetora dos direitos autorais. E sem dúvida, a maior personagem feminina da história da música popular brasileira. Chiquinha surge no cenário do Choro com sua composição Atraente, feita por improviso durante uma roda de Choro. Em 1897, "Gaúcho" ou "Corta-Jaca", grandes contribuições ao repertório do gênero, entre outras composições, como "Lua Branca".
Ernesto Nazareth
Temos na figura de Ernesto Nazareth grande compositor e desencadeador dos rumos do Choro. Embora resistisse a dar denominações as suas composições ,classificava suas músicas como tangos brasileiros. Como pianista criou na sala de espera do cinema Odeon, uma de suas peças mais célebres conhecidíssima como Odeon, que rapidamente ganhou uma transição para o violão. Uma das primeiras composições que se classifica como "choro" é a famosa "Apanhei-te Cavaquinho", um clássico nas rodas de choro, tocada em diversas formações instrumentais. Nazareth esteve sempre no divisor de águas entre o Erudito e Popular, vivenciando esses dois universos. Suas peças mais conhecidas são "Brejeiro", "Ameno Resedá", "Bambino", "Dengoso", "Travesso", "Fon Fon", "Tenebroso".

Pixinguinha

Pixinguinha chega misturando música de Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga e dos primeiros chorões com ritmos africanos, estilos europeus e a música negra americana, fazendo surgir um estilo genuinamente brasileiro. Aos 12 anos já tocava cavaquinho e por este tempo fez sua primeira obra: “Lata de Leite”, inspirada nos chorões que depois das noites de boemia tinha o hábito de tomar o leite que ficava à porta das casas. Pixinguinha foi o maior flautista que o país conheceu, O primeiro maestro-arranjador a ser contratado em uma época que a maioria dos músicos era amadora. Grande compositor de Choro entre centenas temos: "Rosa", "Vou vivendo", "Lamentos", "1X0", "Naquele tempo" e "Sofres porque Queres. Em resumo as palavras de Ari Vasconcelos dizem tudo: “Se você tem 15 volumes para falar de toda música brasileira, fique certo de que é pouco.Mas se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido.Escreva depressa: “Pixinguinha”.

Muitos ainda são os compositores de Choro. Não faltaram, não faltam , muito menos faltarão músicos de expressão no gênero, originários de outras partes do país . Fazendo que o Choro persista, contrariando o pessimismo de muitos já rompeu três séculos de pura melancolia e lamentos. O Choro é atemporal, por isso que sem dúvidas quem viver ouvirá.

Texto por: Rafaela Barreto
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